Três coelhos receberam as honras de um faraó ao serem mumificados com a pompa e o esplendor da realeza egípcia durante um projeto de mumificação experimental na Universidade Americana no Cairo, levado a efeito em janeiro de 2000. A professora assistente de egiptologia, Salima Ikram, vista na foto com alguns de seus alunos, procura respostas para perguntas do tipo: "Como as múmias foram feitas?", "De que maneira os materiais foram processados e usados?", "Que problemas de logística estavam envolvidos?" Esse projeto foi realizado como pesquisa para o Animal Mummy Project.
Foram testados diferentes procedimentos, pois no antigo Egito usava-se mais do que apenas um método. A evisceração, na qual as entranhas eram removidas através de uma incisão, e o clistér de aguarrás, o qual permitia que as vísceras fluíssem pelo ânus, eram os mais comuns. O emprego do método usado na antiguidade dependia do tempo disponível e das finanças. O clistér de aguarrás, às vezes feito com óleo de zimbro, era um método mais barato do que uma evisceração demorada. A qualidade dos ingredientes como natrão ou resinas, também poderia encarecer os custos, bem como o tipo de bandagens e amuletos empregados.
Os ensinamentos funerários foram extraídos de fontes variadas: as informações de Heródoto, testes químicos e uma experiência anterior bem sucedida que a própria Ikram executara na mumificação de alimentos. Alguns ensinamentos também foram buscados em tentativas anteriores de mumificação executadas pelo egiptólogo americano Bob Brier nos anos noventa e pelo Egyptian Mummy Project, da Universidade de Manchester, nos anos setenta.
O natrão, óleos e resinas foram comprados no mercado do Cairo. Cinco coelhos foram adquiridos em um açougueiro local para que não fosse preciso sacrificar animais desnecessariamente, mas nem tudo saiu às mil maravilhas. Dois coelhos, que não foram eviscerados, explodiram, ou seja, um completo desastre. Podemos imaginar uma múmia explodindo nas mãos dos sacerdotes egípcios em suas primeiras experiências?
Depois da evisceração, as múmias, como vemos abaixo, foram
colocadas em caixas de madeira cheias de natrão pulverizado, um mineral semelhante ao sal que existe em abundância no Egito no Wadi Natrun. As caixas foram postas no telhado de um dos prédios da Universidade para desidratar. O processo secante é ajudado pelo vento e pelo sol, o que colabora para prevenir a formação de bactérias. Os coelhos já dessecados foram limpos e cobertos com óleos e resinas para tornar seus corpos mais flexíveis antes da aplicação da bandagem e para amenizar o cheiro da carcaça. Os estudantes também tentaram duplicar os modos pelos quais as múmias foram embrulhadas. Eles descobriram que nos estilos mais elaborados de bandagens estas não foram enroladas no corpo do animal, mas pré-fabricadas e costuradas, o que é mais fácil. Foram gastos de três a quatro semanas para mumificar os animais, mas num ser humano o processo levaria uns 40 dias.
A mumificação foi encerrada com grande cerimônia. Tivemos até mesmo leitura do Livro dos Mortos — afirmou Ikram. Cada coelho foi embrulhado individualmente em bandagens feitas de linho — com as orelhas embrulhadas de maneira a que ficassem levantadas — com amuletos enfiados nas bandagens. Em algumas bandagens foram inscritos encantamentos com hieróglifos. Essas experiências explicaram alguns erros embaraçosos da mumificação. Por exemplo, o natrão quando re-utilizado traz freqüentemente pedaços de outras múmias, criando uma situação na qual as penas de um pato às vezes podem ser encontradas na múmia de um coelho.